Consulte o Capítulo 7, “ Administração de quimioterapia e bioterapia”, para obter detalhes sobre o posicionamento do paciente e a administração da quimioterapia. Avaliação do tumor Um diagnóstico histológico preciso é essencial para fornecer as melhores opções de tratamento possíveis para cada paciente. Nenhum teste patológico isolado será suficiente para todos os tumores. Os patologistas podem, inicialmente, observar as células tumorosas em microscópio, mas a tecnologia atual fornece a capacidade de examinar a malignidade nos níveis celular, cromossômico e molecular. Usando tecnologias atuais, os patologistas identificam características ou mutações na célula tumorosa que são exclusivas de cânceres específicos e têm influência no tratamento e no prognóstico. O diagnóstico de cânceres pediátricos envolve a avaliação das células malignas em diversos níveis (Triche, Hicks e Sorenson, 2016): • Características físicas: morfologia, histologia, imunofenótipo (antígenos ou marcadores superficiais) – entre os métodos estão microscopia, imuno-histoquímica (para tumores sólidos) e imunofenotipagem e citometria de fluxo (para tumores líquidos). • Características genéticas (anomalias cromossômicas, oncogenes) – entre os métodos estão citogenética convencional, FISH, cariotipagem espectral (SKY), análise molecular de polimorfismo de nucleotídeo individual (SNP), análise molecular de reação de polimerase em cadeia (PCR) e nova geração de sequenciamento (NGS). Avaliação de características físicas da célula maligna (histologia, morfologia, antígenos superficiais, marcadores superficiais) Microscopia Em todos os casos de suspeita de câncer pediátrico, o tecido ou fluido será avaliado com um microscópio padrão. Histologia é a avaliação de tecidos em microscópio. Morfologia é a descrição da aparência física (formato, cor, tamanho, estrutura) das células vistas em uma fina seção do tecido tumoral ou em uma gota de sangue periférico ou medula óssea colocada sobre uma lâmina de microscópio. A avaliação morfológica inclui uma descrição do tamanho e do formato das células malignas e sua relação com o tecido ao seu redor. Também podem ser incluídos comentários sobre evidências de atividade mitótica, apoptose ou necrose da célula. Para a maioria dos tumores pediátricos, quando o tecido é devidamente processado, a morfologia fornece boa parte das informações necessárias para a realização de um diagnóstico. Após a determinação do diagnóstico diferencial, são feitos estudos adicionais para determinar o diagnóstico final (Leonard, 2011). A morfologia celular pode ser avaliada por microscopia ótica ou microscopia eletrônica. Microscopia ótica refere-se ao microscópio tradicional usado para observar células com ampliação de até 1.000 vezes o que pode ser enxergado a olho nu. A microscopia eletrônica usa um feixe de elétrons para iluminar as células. Isso permite maior amplificação e resolução, em comparação com o microscópio padrão (Leonard, 2011). A microscopia eletrônica é capaz de ampliar até 10.000.000 vezes o que pode ser visto a olho nu. A microscopia eletrônica não é usada com frequência em oncologia pediátrica, exceto na avaliação de tumores de tecidos moles não diferenciados (Triche et al., 2016). Imuno-histoquímica A imuno-histoquímica (IHC) é o uso de colorações de anticorpos especiais que desencadeiam uma reação
anticorpo-antígeno em uma amostra de tecido (Hoehn e Loghavi, 2014). Ao serem expostas a reagentes imuno- histoquímicos específicos, muitas células malignas reagem produzindo uma mancha colorida que é característica de um tumor ou processo celular específico. As reações positivas ou negativas ajudam a definir o tipo de célula maligna. Esse teste é especialmente útil para a definição de tipos raros de tumores de células redondas pequenas maldiferenciadas, como sarcoma sinovial ou tumor rabdoide, ou quando a amostra de tecido é insuficiente (Onciu e Pui, 2012; Triche et al., 2016). Citometria de fluxo A citometria de fluxo é usada para determinar o imunofenótipo de células em espécimes líquidos, como sangue periférico, medula óssea ou fluido preparado a partir de espécimes de tumor sólido. A citometria de fluxo usa a refração da luz para detectar proteínas específicas na superfície de células. Essas proteínas são chamadas de marcadores superficiais, e diferentes tipos de células têm marcadores de superfície característicos. Os marcadores de superfície em células do sistema hematopoiético são classificados com o uso de um sistema chamado de marcadores de diferenciação em cluster (CD) (Heerema-McKenney et al., 2016). Esses marcadores CD definem o imunofenótipo da célula hematopoiética, seu estágio de desenvolvimento e como ela pode interagir com outras células do sistema imunológico. A determinação do imunofenótipo auxilia na identificação e classificação de leucemias e linfomas. Quando um grupo de células do sistema imunológico (p. ex., linfócitos T, linfócitos B, monócitos) se torna canceroso, esses marcadores superficiais CD podem ser usados para determinar o tipo da célula que se tornou maligna. Os marcadores de superfície CD associados a células leucêmicas de uma criança podem ser identificados no diagnóstico e, posteriormente, testados novamente em pontos específicos durante o tratamento para detectar quaisquer níveis residuais de doença. Os resultados de imunofenotipagem são expressos em percentuais. A tecnologia de citometria de fluxo é capaz de detectar uma célula anormal em 10.000 (0,01%). Normalmente, o teste demora horas e exige uma amostra de tamanho adequado. A citometria de fluxo é a técnica preferencial para determinação do diagnóstico e classificação da leucemia (Heerema-McKenney et al., 2016). Avaliação das características genéticas da célula maligna (citogenética e genética molecular) Entre as alterações genéticas que podem ocorrer em células malignas estão: • Alterações no número de cromossomos. • Alterações na estrutura de cromossomos. – Intercâmbio (translocação) de material genético entre dois ou mais cromossomos. – Exclusão de material genético ou perda de DNA de um cromossomo. – Inversão, na qual um único cromossomo é dividido em dois lugares e a porção central é invertida. Qualquer alteração em relação ao número normal de cromossomos ou na estrutura do DNA de uma célula alterará a maneira como a célula funciona. Alterações genéticas específicas já foram identificadas para diversos cânceres infantis ( Tabela 2.6 ). Por exemplo, o sarcoma de Ewing revela uma translocação entre os cromossomos 11 e 22, t(11:22) (q24;q12), que está presente em mais de 85% desses tumores. Anomalias citogenéticas, como as envolvidas no sarcoma de Ewing, têm consequências prognósticas e desempenham um
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Capítulo 2. Visão Geral do Câncer
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