Capítulo 10.
Efeitos Tardios da Quimioterapia e Bioterapia
Elaine Pottenger, MS RN CPNP PMHS
Devido aos avanços terapêuticos, a taxa de sobrevida do câncer infantil aumentou significativamente, e a maioria das crianças diagnosticadas com câncer atualmente terá sobrevida de longo prazo. Ironicamente, o tratamento que fornece a cura também pode deixar muitos desses sobreviventes com efeitos colaterais vitalícios. A quimioterapia pode danificar ou destruir células saudáveis, além das células cancerosas. Essas células danificadas podem causar efeitos tanto de curto quanto de longo prazo. Em decorrência disso, os sobreviventes se deparam com um maior risco de morbidade, mortalidade e redução da qualidade de vida associados à terapia anticâncer. Efeitos tardios são aqueles de longo prazo e frequentemente crônicos do câncer ou de seu tratamento que podem se iniciar durante o tratamento e continuar progredindo por anos após isso (p. ex., efeitos cognitivos e perda de audição) ou que podem se manifestar apenas vários anos após a conclusão da terapia (p. ex., efeitos sobre a fertilidade). Os efeitos tardios da quimioterapia ou bioterapia podem afetar qualquer sistema de órgãos, como os sistemas tegumentar, neurológico, auditivo, visual, dental, endócrino, cardiovascular, pulmonar, gastrointestinal, hepático, geniturinário, reprodutor, hematopoiético e musculoesquelético. De metade a três quartos dos sobreviventes de câncer pediátrico têm pelo menos uma condição médica ou deficiência resultante do câncer ou do tratamento dele. Noventa e cinco por cento dos sobreviventes de câncer infantil relatam pelo menos uma condição crônica de saúde até os 45 anos de idade (Hudson et al., 2013). A identificação antecipada e o devido encaminhamento e gerenciamento de efeitos tardios pode reduzir a gravidade dos problemas residuais em alguns casos. Profissionais de saúde que cuidam de crianças com câncer devem entender os possíveis efeitos de longo prazo do tratamento a ser administrado. Prestadores de serviços e enfermeiros pediátricos devem discutir com seus pacientes os riscos dos efeitos tardios específicos relacionados ao tratamento e enfatizar a importância do monitoramento de longo prazo e de intervenções, quando indicadas. Sobreviventes de câncer infantil devem receber um acompanhamento médico abrangente por profissionais que tenham familiaridade com os efeitos tardios da terapia, idealmente usando uma abordagem com equipe multidisciplinar envolvendo especialistas médicos, enfermeiros e especialistas psicossociais. Os cuidados pós-tratamento
devem incluir triagem de rotina para potenciais efeitos tardios. Em outubro de 2018, o Children’s Oncology Group (COG) publicou a versão 5.0 de suas diretrizes de triagem para efeitos tardios (www.survivorshipguidelines.org). Essas diretrizes estão disponíveis no site público do COG e podem ser acessadas por qualquer pessoa que preste cuidados a sobreviventes. O conhecimento emergente sobre os efeitos do tratamento em um corpo em desenvolvimento de uma criança está ajudando a moldar os tratamentos do futuro, com a esperança de que as taxas de sobrevida permaneçam crescendo, ao passo que os efeitos tardios se reduzam tanto em frequência quanto em gravidade. Idade na época do diagnóstico, tipo e local do câncer, sexo, histórico familiar e genética são algumas das variáveis que podem influenciar o desenvolvimento de efeitos tardios. Crianças mais jovens no momento do diagnóstico e do tratamento podem ter maior risco de determinados efeitos de longo prazo (p. ex., déficits cognitivos, cardiotoxicidade), mas menos risco de outros efeitos (p. ex., infertilidade). Sobreviventes de tumores cerebrais têm maior risco de determinados efeitos tardios relacionados ao local do tumor e ao tratamento direcionado para o cérebro em desenvolvimento. A quimioterapia combinada pode ser associada a maiores efeitos colaterais, se os agentes administrados tiverem um espectro de toxicidade semelhante. Da mesma maneira, os pacientes podem ter menos morbidades se agentes com diferentes perfis de toxicidade tiverem sido usados juntos. O tratamento com radiação pode potencializar alguns efeitos tardios associados à quimioterapia. Por exemplo, efeitos neurocognitivos vistos após a administração de metotrexato podem ser mais significativos quando o medicamento é administrado com radiação craniana, e a cardiomiopatia pode ser mais severa quando antraciclinas são administradas em paralelo a radiação no tórax. Determinados agentes quimioterapêuticos podem contribuir para o desenvolvimento de neoplasmas malignos secundários. Os efeitos tardios conhecidos do tratamento são discutidos nas seções a seguir. Os efeitos tardios de agentes de bioterapia e agentes de quimioterapia mais novos que estão sendo usados em estudos Fase I e Fase II mais recentes não serão discutidos nesta seção, pois não há evidências suficientes baseadas em pesquisa sobre seus efeitos de longo prazo.
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