PLANO DE ESTUDOS DE Quimioterapia e Bioterapia PEDIÁTRICA

espaços intersticiais, resultando em edema generalizado, hemoconcentração e hipoproteinemia. Trata-se de um edema intersticial, ao contrário do edema alveolar. Fisiopatologia Embora o mecanismo exato não seja claro, a síndrome do extravasamento capilar pode ocorrer quando há uma “tempestade perfeita”: endotélio capilar pulmonar danificado; resposta inflamatória; hipoalbuminemia; e aumento da liberação de citocinas, todos trabalhando em conjunto para aumentar a permeabilidade da membrana capilar. Os fluidos então vazam do espaço intravascular através da membrana capilar e entram no espaço intersticial (Kesik, Atas, Korkmazer e Babacan, 2015). Na terapia com ácido all-trans retinoico, essa liberação de citocinas é resultado da rápida diferenciação de blastos leucêmicos em granulócitos maduros. Esses granulócitos aderem preferencialmente ao endotélio no tecido pulmonar e estimulam a liberação maciça de citocinas. Sintomas Os sintomas podem ocorrer de forma aguda, como no caso de reações à interleucina-2, quando um edema pulmonar agudo pode se desenvolver poucas horas após a dose. Os sintomas que podem ser avaliados no exame físico incluem edema facial; distensão das veias do pescoço; edema periférico; dispneia; crepitações na ausculta; e tosse improdutiva, persistente e seca. Os pacientes também podem apresentar ganho de peso ou desequilíbrio hídrico, com maior aporte do que eliminação de líquidos (Bartholomew et al., 2017). Dessaturação dos níveis de oxigênio, diminuição da perfusão, taquipneia e cianose são sinais de deterioração da função pulmonar. Hipotensão e taquicardia podem ocorrer com a piora dos sintomas. A gravidade dos sintomas da síndrome do extravasamento capilar pode ser classificada com os Critérios Comuns de Terminologia para Eventos Adversos – CTCAE (ver Apêndice F) ou conforme o protocolo de tratamento específico. Fatores de risco • Administração de clofarabina, docetaxel, gencitabina, ácido all-trans retinoico, G-CSF, GM-CSF. • Administração simultânea de interleucina-2 e dinutuximabe (Bartholomew et al., 2017). • Sobrecarga de fluidos. • Choque séptico. • Anafilaxia, angioedema. • Histórico de doença pulmonar, especialmente se houver redução do VEF 1 (Abid, Malhotra e Perry, 2001). • Histórico de insuficiência cardíaca ou insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Complicações • Choque hipovolêmico. • Lesão renal aguda (Siddall, Khatri e Radhakrishnan, 2017). Tratamento médico • O tratamento médico geralmente inclui o uso de diuréticos e, às vezes, corticosteroides. • A oxigenoterapia é usada para manter os níveis de saturação superiores a 94% e, se necessário, suporte ventilatório pode ser utilizado. • O suporte de fluidos com soluções coloides (TCHs, albumina) em vez de soluções cristaloides (solução salina normal, fluidos intravenosos contendo dextrose) pode

ajudar a aumentar a pressão oncótica, resultando em menor extravasamento de fluidos para o interstício. • A administração de um diurético após TCHs e albumina ajuda a eliminar fluidos, fazendo com que passem do compartimento extravascular para o intravascular, evitando assim a sobrecarga de fluidos (Bartholomew et al., 2017). Avaliações e intervenções de enfermagem Avaliações • Monitorar sinais vitais, incluindo saturação de oxigênio; observar a ocorrência de hipotensão e taquicardia. • Avaliar o esforço respiratório para detectar evidências de retrações ou dilatação das narinas. • Avaliar a ocorrência de tosse não produtiva, crepitação e chiados no peito. • Avaliar se há distensão de veias do pescoço. • Avalie cuidadosamente o status de hidratação, monitore o balanço hídrico e verifique o peso do paciente uma ou duas vezes ao dia. Intervenções • Elevar a cabeceira do leito. • Fornecer oxigênio, conforme prescrito. • Administrar TCHs ou albumina, conforme prescrição médica. • Administrar terapia com diuréticos ou corticosteroides, conforme prescrição. • Providenciar brincadeiras e atividades tranquilas. • Coordenar os cuidados de enfermagem para que os pacientes tenham um descanso adequado. • Preparar pacientes e familiares para os testes e procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Instrução ao paciente e à família • Ensinar aos pacientes e familiares estratégias para conservar a energia do paciente. • Instruir pacientes e familiares quanto ao uso de oxigênio ou outras medidas de suporte. • Informar a pacientes e familiares quais agentes de quimioterapia e bioterapia estão associados a um maior risco de toxicidade pulmonar. EFEITOS COLATERAIS PULMONARES RELACIONADOS A TRANSFUSÕES Definição Os efeitos colaterais pulmonares da transfusão de produtos hematológicos podem resultar em edema pulmonar cardiogênico ou não cardiogênico. A lesão pulmonar aguda associada à transfusão (TRALI, transfusion-related acute lung injury ) é um edema pulmonar não cardiogênico que ocorre em função de dano mediado por neutrófilos ao endotélio capilar. A sobrecarga circulatória associada à transfusão (TACO, transfusion-associated circulatory overload ) é causada pela transfusão de produtos hematológicos em grande volume. TRALI e TACO apresentam sintomas muito semelhantes. No entanto, como possuem diferentes mecanismos de ação, o tratamento de cada um é diferente. Embora não sejam efeitos colaterais diretos da quimioterapia, as transfusões são uma intervenção comum administrada por enfermeiros para tratamento de anemia ou trombocitopenia induzida por quimioterapia. Portanto, os profissionais de enfermagem devem conhecer esses tipos de reações transfusionais e o respectivo

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