Capítulo 8.
Toxicidade e Tratamento de Sintomas
Michelle A. Gillard, MSN RN CPHON ® Ruth Anne Herring, MSN RN CPNP-AC/PC CPHON ®
Joy Hesselgrave, MSN RN CHPPN CPON ®
O câncer infantil possui diversas modalidades de tratamento, normalmente utilizadas em conjunto. Entre essas modalidades estão a quimioterapia, radioterapia, cirurgia, agentes biológicos e transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH). Cada modalidade possui efeitos colaterais em potencial. A cronologia associada ao aparecimento dos efeitos colaterais varia de acordo com cada modalidade de tratamento. Por exemplo, os efeitos colaterais da quimioterapia podem ocorrer durante a administração ou após horas, dias, semanas ou até mesmo anos. As toxicidades podem envolver qualquer sistema corporal. A gravidade dos efeitos colaterais associados à quimioterapia também varia. Alguns efeitos colaterais são brandos, enquanto outros, como a mielossupressão, podem ser graves o bastante para demandar mudanças no tratamento. Alguns efeitos colaterais, como queda de cabelos, são temporários; outros, como perda de audição, são permanentes. Há ainda outros efeitos, como neuropatias periféricas, que podem causar danos se não forem identificados a tempo. Um papel importante do enfermeiro em oncologia pediátrica é reconhecer os efeitos colaterais potencialmente perigosos da terapia e iniciar a prevenção ou o tratamento dos sintomas, ou ambos, em tempo hábil. Os enfermeiros de oncologia pediátrica também participam da descrição e documentação da gravidade das toxicidades. O uso de escalas padronizadas de toxicidade ajuda a realizar descrições claras e consistentes, que podem servir para monitorar um efeito colateral específico em determinado paciente ao longo do tempo. As escalas padronizadas podem ser usadas também para avaliar um efeito colateral específico em um grupo de pacientes sob um regime de tratamento específico. Uma das escalas de toxicidade mais utilizadas é baseada nos Critérios Comuns de Terminologia para Eventos Adversos (CTCAE, do inglês Common Terminology Criteria for Adverse Events) , uma publicação do National Cancer Institute (NCI) do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, e utilizada pelo Children’s Oncology Group (COG) (consulte o Apêndice F ). Alguns protocolos de tratamento também fornecem escalas de classificação usadas para avaliar efeitos colaterais específicos. Recomenda-se que os profissionais de enfermagem consultem essas escalas padronizadas ao descreverem e documentarem toxicidades relacionadas ao tratamento. Os enfermeiros de oncologia pediátrica atuam também como educadores, ensinando a pacientes e familiares como lidar com possíveis efeitos
colaterais, como tratar sintomas em casa e quando comunicar qualquer preocupação à equipe de saúde. As toxicidades, seus sintomas e seus tratamentos serão discutidos neste capítulo, categorizados de acordo com o sistema corporal afetado. Sistema hematopoiético O sistema hematopoiético é responsável pela hematopoiese, que é a produção de glóbulos brancos (leucócitos), glóbulos vermelhos (hemácias) e plaquetas. O “centro de produção” da hematopoiese é a medula óssea, que produz continuamente novas células hematopoiéticas para reabastecer o suprimento de hemácias, leucócitos e plaquetas à medida que são retirados da circulação. A hematopoiese normal começa com as células-tronco pluripotentes. Cada célula-tronco possui capacidade de proliferação, diferenciação e maturação, tudo isso regulado por um notável sistema de retroalimentação. Esses mecanismos levam a célula-tronco a se desenvolver em uma linha celular específica, produzindo as células hematopoiéticas específicas de que o corpo precisa e cessando a produção quando os sinais de retroalimentação indicam um número adequado de células. De maneira bastante organizada, a medula produz células- tronco destinadas a se transformarem em hemácias, leucócitos e plaquetas. Em seguida, essas células entram na circulação periférica e cumprem sua função única como células maduras normais. Quando essas células completam seu ciclo de vida, elas são removidas da circulação e substituídas por novas células. A função normal da medula óssea pode ser suprimida por diversos agentes quimioterápicos e bioterápicos, assim como por radioterapia. Outros agentes, como citocinas, podem estimular a produção de certos componentes da medula óssea. A mielossupressão, que é a redução da atividade da medula óssea, é a mais comum toxicidade dose-limitante de muitos agentes e regimes de quimioterapia, podendo causar anemia, neutropenia ou trombocitopenia ( Tabela 8.1 ).
ANEMIA Definição
Uma hemácia normal tem a função de transportar oxigênio dos pulmões para os tecidos do corpo e dióxido de carbono dos
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